A partir do dia 1º, seis comunidades quilombolas do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás receberão pesquisadores para analisar perfil nutricional de crianças e situação socioeconômica das famílias
A partir desta quarta-feira (1º), seis comunidades quilombolas nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás receberão os pesquisadores Núcleo de Pesquisa, Informação e Políticas Públicas da Universidade Federal Fluminense (DataUFF). A instituição, contratada por meio de licitação pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), vai coletar dados para a Pesquisa de Avaliação Nutricional.
O estudo, conduzido pelo MDS, em parceria com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), busca analisar o perfil nutricional de crianças menores de 5 anos de idade, além de avaliar a situação socioeconômica das famílias. “Além disso, faremos o georreferenciamento de todos os domicílios e de todos os equipamentos públicos disponíveis na região”, explica a diretora de Avaliação, da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi) do MDS, Junia Quiroga.
Ao todo, serão 173 comunidades quilombolas pesquisadas em todo o país. O trabalho de campo é feito por 30 pesquisadores, divididos em duas equipes que viajam pelos estados. Na última semana de maio, um grupo de deis pesquisadores retornou ao estado do Rio de Janeiro para concluir a pesquisa no Sudeste, com a visita à comunidade do Campinho da Independência. A 20km da turística Paraty, pela estrada Rio-Santos, o Campinho é a 23ª comunidade a ser visitada por esta equipe.
Paraty – A rotina começa cedo. Ao chegar à comunidade, o grupo se divide. Queila dos Santos, a agente comunitária de saúde que participa da pesquisa, serve de guia para os colegas. Ela vive no Campinho desde que nasceu e atende as famílias quilombolas há quatro anos. Cada pesquisador se dirige a uma residência para aplicar o questionário. Nas casas onde há crianças menores de 5 anos, é necessário fazer a medição de peso e altura, com a participação de Queila.
O número de perguntas a serem respondidas depende da situação de cada família: se há crianças, se há falta de alimentos, se há casos de baixo peso ou desnutrição infantil. Em cada residência, os pesquisadores passam entre 30 minutos e uma hora, a depender da evolução do questionário.
A dona de casa Josiane Soares Lúcio, 26 anos, abre a porta para os pesquisadores na companhia dos filhos Davi, 2, e Lucas, 5. A casa simples não tem piso nem reboco. O marido, pedreiro, tem renda mensal de um salário mínimo. Lucas frequenta a escolinha da comunidade e Josiane recebe R$ 64 mensais do Programa Bolsa Família, que são gastos com a alimentação das crianças. “Para mim, é uma ajuda muito boa. Nunca passamos fome, mas seria muito mais difícil sem o Bolsa”, conta. Depois do extenso questionário, ela conta que já havia respondido a outras pesquisas, mas nunca com perguntas tão detalhadas sobre a situação nutricional da família. “Espero que sirva para melhorar a assistência que a gente recebe”, diz.
Perto dali, é a vez de Simara da Conceição Pimenta, 24 anos, responder ao questionário. Solteira e sem trabalho, ela cuida do filho Gustavo, de 2 anos. Mora com a mãe e o irmão numa casa pequena, mas confortável. A família não recebe nenhum benefício social. A mãe e o irmão trabalham e sustentam a casa, com uma renda acima de R$ 700 por mês. “Nunca tivemos problema de falta de comida, graças a Deus. Aqui todo mundo sempre trabalhou, moço”, responde ao pesquisador.
Organização – Primeira comunidade a ser titulada no estado do Rio de Janeiro, em 1999, o Campinho fundou cinco anos antes a Associação de Moradores do Quilombo Campinho (Amocq). De acordo com o presidente, Vagner do Nascimento, somente cerca de 15% dos moradores recebem benefícios como o Bolsa Família. A maioria, diz ele, não cumpre as contrapartidas do programa, por ter renda acima da estipulada. Outros, completa, têm o perfil, mas não se cadastraram para receber “por desinformação”. A Secretaria de Promoção Social de Paraty diz que pretende instalar um Centro de Referência de Assistência Social (Cras) quilombola dentro do Campinho, mas ainda não há previsão de quando isto ocorrerá.
No Campinho da Independência, as casas são de alvenaria e, apesar do acabamento rústico, têm banheiro, televisão, alguns móveis e eletrodomésticos. As famílias sobrevivem do turismo, da agricultura, do artesanato e do trabalho doméstico nos condomínios de alto padrão localizados próximo da comunidade. Contam com posto de saúde e escola e têm uma loja de artesanato e um restaurante popular. Queila, a agente comunitária de saúde que acompanha a pesquisa, diz que só se lembra de dois casos de desnutrição infantil registrados na comunidade nos últimos quatro anos.
“O campinho é muito conhecido pelo nível de organização, mas eu não diria que isso tem a ver com a escolaridade, e sim com a mobilização política”, revela Ronaldo dos Santos, representante da Coordenação Nacional de Comunidades Quilombolas (Conaqc). Para ele, a pesquisa de avaliação nutricional gera a expectativa de avanços nas políticas públicas nos próximos anos.
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