segunda-feira, 16 de maio de 2011

FABRICAÇÃO DA ESCASSEZ E DA FOME



70 a 80% da renda de trabalhadores/as que percebem salário mínimo, é gasto com alimentos. A disparada dos preços dos gêneros alimentícios significa comprometimento da saúde e sofrimento cujo trabalho exige mais proteínas e calorias.
Não faltam os que apregoam a escassez de alimentos como principal causa da carestia. É verdade que, em algumas regiões, os agro-combustíveis substituíram as lavouras de grãos e hortifrutigranjeiros. É também verdade que as mudanças climáticas estão a ameaçar a produção de alimentos, assim como, os preços dos insumos e a alta do petróleo. Mas, por enquanto, não faltam alimentos no mundo, mas sobra especulação.
O que salta aos olhos: os preços é que estão se tornando proibitivos, o poder aquisitivo é que está minguando diante da disparada dos preços. A escassez é a muleta de que se servem os ruralistas em busca de arrancar mais recursos públicos.
Um exemplo que pode ilustrar quão incongruente é a alegação de escassez é o da carne cuja produção o Brasil é não só auto-suficiente quanto um dos principais exportadores. Cada vez menos a camada popular pode ingerir esse alimento de superlativa produção.
Um expediente de que governos sempre se utilizaram para conter os preços era o de estoques reguladores. Os que apostavam na bolsa de cereais xingavam e esperneavam, mas era possível conter a carestia. Em tempos de neoliberalismo esses estoques se tornaram heresia. Então não há quem controle: o estado abriu mão de seu papel.
Os alimentos caíram na ciranda financeira e, com a crise iniciada em 2008, os especuladores se aproveitaram. Embora tenha havido quebra de safra de soja na Argentina e açúcar na índia, a FAO afirma que não houve e não há falta de alimentos no mundo, pelo contrário.
A China é sempre citada, mas sua produtividade é maior do que o aumento de consumo e que o crescimento populacional. O exemplo do México é emblemático. Pioneiro na adesão à área de Livre Comércio, jogou a população indígena e mestiça à fome. O milho, base da alimentação indígena (Hombres de Mays), foi utilizado para geração de etanol. até mesmo o milho branco que tivera promessa de não ser atingido. Os alimentos não são mais produzidos para o consumo da população, mas tornou-se objeto de troca, pior, objeto de especulação.
A Bolsa Família amenizou em parte a pobreza no Brasil, diminuindo sensivelmente a fome de multidões. Exitosa, a ONU tomou como modelo mundial. A fome não era por escassez de alimento, mas por falta de acesso, por falta de poder aquisitivo. A destinação de 30% dos recursos da Merenda Escolar para a compra de alimentos in natura (produzidos na própria região pela agricultura familiar) é uma medida das mais sábias, se cumprida, diminui o poder dos lobbies das indústrias de alimentos. Propiciaria, na prática, uma educação alimentar, justamente nesses tempos em que indústrias produzem alimentos que encaminham à aumento de colesterol, obesidade e outros comprometimentos à saúde.

Soberania alimentar, acima de tudo.
Iolanda Toshie Ide

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